O tic tac no lado esquerdo do peito

Escrito por Andressa Santiago - abril 24, 2022

Criação de personagem*


Existe algo que habita dentro e o peso lhe curva os ombros. Apesar da robustez que sobressalta seu corpo, esse algo é insustentável. Amadi Ngozi eleva as mãos e deixa a cabeça repousar sobre elas. Por um momento inquietante, apesar do corpo inerte, espera que seus pensamentos lhe escape por entre os dedos, como grãos de areia. Sorrateiramente, a preocupação chegou. Não marcou dia, não marcou lugar, não marcou hora; apenas entrou e se deixou repousar numa vida que não é a sua. 

Amadi Ngozi fixou os pés no Rio de Janeiro há 30 anos e construiu alicerces sobre as rochas da persistência, do desbravamento, da inovação e do empreendimento. O conhecimento veio da sua demasiada atenção aos estudos, mas a sabedoria e as engenhosidades para resistir às manobras da vida vieram sobretudo dos causos compartilhados por seus familiares, que por sua vez aprenderam com seus ancestrais.

São histórias atemporais, que resistem às tempestades e tem o poder de resgatar de dentro para fora. Ngozi pede licença para transitar entre os escombros alojados que recolheu na caminhada — entre altos, baixos, curvas sinuosas e estradas que supostamente não terão fim — durante seus 42 anos. A solução para o impalpável — ele acredita — está na caixa preta no ínfimo do seu ser. De súbito, as pálpebras se comprimem e, neste instante, seus olhos refletem o interior sob as lentes de uma perspectiva antes desconhecida.

No relógio, as horas. E o batimento dos ponteiros dançam com o compasso do tic tac que soa no cerne do lado esquerdo do peito. Diferente do que remexe dentro, a solução para a sala fria em que se encontra irá, nos próximos instantes, atravessar a porta do seu escritório, na Rio Branco. Toda a sua força e toda sua persistência, apesar da dureza da preocupação, será emancipada pelo bem do amor maior. Este marcou dia, lugar e hora. Se chama Amaka Ngozi.



*É importante dizer que este post foi realizado durante a disciplina de Jornalismo, Entrevista e pesquisa jornalística, com a imagem disponibilizada pela professora na aula "A construção dos personagens na reportagem investigativa: utilizando as técnicas do Storytelling" do dia 11 de abril. Sendo assim, a imagem é ilustrativa, e os nomes e descrições são ficcionais.


  • Compartilhar:

Você também pode gostar

0 comentários

Obrigada pela participação, responderei em breve.
Andressa Santiago