Citações | Hibisco roxo - Chimamanda Ngozi Adichie

Escrito por Andressa Santiago - maio 04, 2021

Esse livro é uma crítica social do início ao fim, é profundo e atemporal. Chimamanda explicita situações que podemos observar se olharmos para o lado, se repararmos os detalhes gritantes que pedem para serem observados e questionados diariamente, pois devido sua recorrência, deixamos de reparar e questionar o óbvio, tornando-se, por vezes, algo comum e incomovível, gerando assim seres incapaz de ter sensibilidade com as mazelas que transpassam a vida de muitos indivíduos em todo canto do mundo.

Gosto de grifar trechos importantes nos livros pois sempre volto à eles em algum momento. Estas citações são as que fizeram-me refletir e questionar a realidade.



A gente divide as pequenas coisas que amamos com quem amamos.

Ele estava correndo dentro da sua mente, fugindo de alguma coisa.

A rebeldia de Jaja era como os hibiscos roxos experimentais de tia Ifeoma: rara, com o cheiro suave da liberdade, uma liberdade diferente daquela que a multidão, brandindo folhas verdes, pediu na Government Square após o golpe. Liberdade para ser, para fazer.

Ela falava da maneira como os pássaros se alimentavam: aos bocadinhos.

Com frequência fazíamos perguntas cujas respostas já sabíamos. Talvez fizéssemos isso para não precisarmos formular outras perguntas, aquelas cujas respostas não queríamos saber.

Golpes levavam a mais golpes.

Um golpe sempre inicia um ciclo vicioso. Militares sempre derrubariam uns aos outros simplesmente porque tinham como fazer isso e porque todos ficavam embriagados pelo poder.

Mas o que nós, nigerianos, precisávamos não era de soldados para nos comandar; precisávamos de uma democracia renovada.

Ele esticou a mão e pegou a minha, e eu senti como se minha boca estivesse cheia de açúcar derretido.

Dentro daqueles olhos, havia histórias que eu jamais saberia.

Havia um desamparo em sua alegria.

O silêncio que deixou foi pesado, mas confortável, como um casaco áspero e muito usado sendo colocado numa manhã gelada.

Você é como uma mosca indo cegamente atrás de um corpo que vai ser enterrado!

Às vezes a vida começa quando o casamento acaba.


Estou lhe dizendo todas essas coisas porque é com você que estou falando. Se fosse outra pessoa, ia esfregar vaselina na minha cara faminta até ela brilhar.


Eram olhos interrogativos, que faziam muitas perguntas e não aceitavam muitas respostas.


Me dê riquezas e um filho, mas se eu tiver de escolher um ou outro, me dê o filho, pois, quando meu filho crescer, minhas riquezas também crescerão.


Olhei para ela e me senti como alguém vendo preciosos grãos de areia dourada escapar pelos dedos sem poder fazer nada.


Briga com as verdades das quais ele não gosta.


Por acaso nosso povo é burro? Quem é que morde a mão que o alimenta?


Não podemos ser parte daquilo contra o qual lutamos.


A moral, assim como o gosto, é relativa.


Às vezes o que era diferente era tão bom quanto o que era familiar.


Deixe que seus olhos os acompanhem para longe do mal e perto do bem.


Ela parecia tão feliz, tão em paz, e eu me perguntei como alguém perto de mim pode se sentir assim, quando havia fogo líquido me queimando por dentro, quando o medo misturado à esperança se agarrava nos meus calcanhares. 


Meu peito estava repleto de alguma coisa que parecia espuma de banho. Leve. A leveza era tão doce que eu podia sentir seu gosto na língua, tinha a doçura de um caju maduro, amarelo-vivo.


Estava oscilando na fronteira entre o sono e a vigília.


Eu já conhecia o medo, porém quando o sentia ele nunca era o mesmo da outra vez, como se viesse em sabores e cores diferentes.


Não soube o que responder, senti como se estivesse pisando num chão onde uma criança derramava talco, onde eu teria que pisar com cuidado se não quisesse escorregar e cair.


Desejei que não fosse doer tanto sorrir, para que eu pudesse sorrir para ele.


Algo escapava de dentro de mim, fugia, levando minha força e minha sanidade, e eu não podia impedir.


"Gostar" não era uma palavra forte o suficiente. Não se aproximava do que eu sentia, da maneira como sentia.


Fechei os olhos e deixei sua voz me acariciar.


Quando falo a verdade, vira deslealdade.


homoliteratus

Por acaso a verdade vai alimentar seus filhos? A verdade vai pagar pela escola deles e comprar suas roupas?


"Era isso que tia Ifeoma fazia com meus primos, obrigando-os a ir cada vez mais alto graças à forma como falava com eles, graças ao que esperava deles. Ela fazia isso o tempo todo, acreditando que eles iam conseguir saltar. E eles saltavam. Comigo e com Jaja, era diferente. Nós não saltávamos por acreditarmos que podíamos; saltávamos porque tínhamos pânico de não conseguir."


Preciso acreditar neles por mim mesmo, mais até do que eles precisam de mim para acreditar em si mesmos.


Porque preciso acreditar em algo que eu jamais questiono.


Você precisa ver como os preços do leite em pó dispara todo dia, parece que tem alguém correndo atrás deles.


Respondi, querendo dizer também que ele era o homem cuja voz mandava em meus sonhos.


Você deve tratar as feridas de um câncer ou o próprio câncer? A gente não tem dinheiro para dar aos nossos filhos. Não tem dinheiro para comprar carne. Não tem dinheiro para comprar pão. Aí seu filho rouba e você fica surpreso? É preciso curar o câncer, ou as feridas vão continuar aparecendo.


É isso que acontece quando você fica de braços cruzados e não faz nada para impedir a tirania. Seu filho vira alguém que você não conhece.


Todos os dias nossos médicos vão para lá [fora da África] e acabam lavando pratos dos oyinbo, pois os oyinbo pensam que a gente não sabe ensinar medicina direito. Nossos advogados vão para lá e acabam dirigindo táxi, porque os oyinbo não confiam na forma como eles estudaram as leis.


Os que estudaram vão embora, aqueles que têm potencial para consertar o que está errado. Eles deixam os fracos para trás. Os tiranos continuam reinando porque os fracos não conseguem resistir. Você não vê que é um círculo vicioso? Quem vai quebrar esse círculo?


Se recusou a ir e depois caiu num silêncio obstinado, como se estivesse nos desafiando a perguntar por quê.


Vai encontrar mais amor do que vai precisar para uma vida inteira.


Quis pensar em alguma coisa, qualquer coisa, para assim não precisar mais sentir. Quis piscar os olhos e me livrar do líquido que os umedecia.


Estava ocupada trancando pequenas partes de mim, pois não ia mais precisar delas.


Eu ri. Rir parecia muito fácil agora.


Meus olhos estavam formigando com as lágrimas que eu não havia chorado.


Havia pedaços esparramados dentro de mim que me machucavam e que eu jamais poderia colocá-los no lugar, pois todos aqueles lugares haviam desaparecido.


Seguimos carregando dentro de nós, mas não compartilhando, a mesma nova paz, a mesma esperança, concreta pela primeira vez.


Porque Nsukka pode libertar algo no fundo de sua barriga que sobe até a garganta da gente e sai sob a forma de uma canção sobre a liberdade. E sob a forma de riso.




Existem pessoas, escreveu tia Ifeoma certa vez, que acham que nós não conseguimos governar nosso próprio país, pois nas poucas vezes em que tentamos nós falhamos, como se todos os outros que se governam hoje em dia tivessem acertado de primeira. E como dizer a um bebê que está engatinhando, tentar andar e cai de bunda no chão que ele deve permanecer no chão. Como se todos os adultos que passam por ele também não houvessem engatinhado um dia.


É claro que sempre há eletricidade e que a água quente sai na torneira, mas a gente não ri mais, escreve Amaka, porque não temos tempo para rir, porque nem nos vemos mais.


Não queria que eu ficasse procurando os porquês, pois há certas coisas que acontecem e para as quais não podemos formular um porquê, para as quais os porquês simplesmente não existem e para as quais, talvez, ele não sejam necessários.



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Andressa Santiago