Gerações familiares que retornam às suas raízes e mantém viva as lembranças dos antepassados
Cangalha do vento são contos que narram os processos evolutivos de uma família de Junco, Bahia. A começar por Aristeu seguido pelas próximas gerações em que nos é apresentado seu filho José Paulo e seu neto Fernando. Apesar de serem contos, o autor Luiz Eudes entrelaça-os de modo sutil e com maestria, fazendo com que os personagens se encaixassem perfeitamente.
Como as histórias de família narrada pelos mais antigos, e é como se tirassem as escamas dos nossos olhos, pois o presente e seus detalhes ficam mais nítidos e vão ganhando sentido e significado.
Já teve essa experiência, ou a de contar sobre?
Os cenários variam quando, numa tentativa de fugir da seca e ter melhor qualidade de vida, uma das gerações se muda do sertão para São Paulo. Contudo, constantemente se encontrava imerso em seus sentimentos e emoções vividas em sua cidade natal. Essas lembranças, portanto, fizeram com que ele desejasse retornar e restabelecer suas raízes.
Narrado em terceira pessoa, temos uma visão ampla dos acontecimentos e o contexto histórico-social em que estão inseridos como os períodos de seca no sertão, alguns costumes e histórias passadas de geração em geração; a migração para cidades mais desenvolvidas e a dificuldade de se manter nela; como também as questões que giram em torno do militarismo.
Somos conduzidos nessa viagem repleta de novas descobertas. E, com isso, me refiro também as passadas que, como nova geração, muitas vezes nossa única fonte são as memórias de nossos pais, avós, bisavós... Apesar de alguns buscarem experiências em outras regiões, existe algo que os mantém ligados a Junco. Nele a história se inicia e para ele a história retorna.
É um livro para se ler em um dia, além disso, seus contos são ricos e capazes de aquecer o coração de maneira surpreendente. Após a leitura, foi inevitável não passar alguns minutos rememorando histórias ouvidas sobre meus antepassados, bem como a falta delas, que foram apagadas no processo de escravidão. Entretanto, é reconfortante ler um autor nacional e conhecer sua percepção sobre histórias que acontecem em solo brasileiro — ainda que ficcional.
Pretendo retornar a essa leitura, pois a mensagem e o sentimento que deixa é terno.
Título Original: Cangalha do vento
Autor: Luiz Eudes
Gênero: Contos
Páginas: 106
Edição: 2ª Edição
Editora: Zarte
Publicação: 2020
ISBN: 9786588707005
Minha avaliação: ★★★★★
Sinopse:
O novo trabalho de Luiz Eudes é um brinde ao seu público leitor por sua forma lírica de traçar uma linha imaginária que persegue todos os contos e podem perfeitamente se entrelaçarem formando uma bela novela, pois o pano de fundo é sempre o mesmo: o Junco, o lugar de sua gente.
O teor criativo reflete a afetividade que o autor nutre pelo seu lugar (Sátiro Dias), pois além da escrita leve e solva, a cidade imaginária tratada no livro como Junco é uma espécie de homenagem a cidade real que o inspira: Sátiro Dias
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Andressa Santiago